MEMÓRIAS
DE UM RÉVELLION
Autora: Marta
Tereza Araújo
Contemplando o céu
iluminado, pelas estrelas e colorido pelos fogos de artifícios, celebrava-se o ano que terminava e o outro ano que se iniciava. Então, me perguntei: “o que há por vir
nos dias que se avizinhavam?”.
A aurora despontava regada
a champagnes, drinks e outros tipos de bebidas; embalada por músicas; cercada de abraços, de beijos e de alegrias. As despedidas das expectativas não realizadas no
ano velho cruzavam-se com as esperanças do Ano Novo.
Todas as crenças,
empreendidas na fé, depositavam seus anseios nas preces, nas suplicas e nas simpatias, para garantir a chegada de um ano bom.
As pessoas comuns, as autoridades, os chefes de Estados não previam que, estava próximo um
fenômeno avassalador o qual iria transformar a vida da humanidade.
Para os menos
informados, o Ano Novo, começou com as rotinas próprias dessa época. Volta ao
trabalho para uns, férias para outros, viagens para alguns. Inclusive carnaval
para muitos! E o inimigo, já estava à espreita; transitando
em meio às pessoas.
Um micro organismo roubou
a cena do ano novo. Denominado, pelos cientistas, com o nome oficial, Severe
Aevere Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2, ou simplesmente SARS-CoV-2,
coronavírus, adquiriu fama e caiu, literalmente, nas “bocas dos povos”,
rapidamente, causando uma doença, COVID-19.
Esse organismo se empoderou
e, não somente, ganhou fama, mas caiu, efetivamente, nas bocas dos povos, nos
narizes, nos olhos, nas roupas, nos objetos. Enfim, em todo lugar, pois ele se
infiltrou, facilmente, causando a doença temida por todos os povos.
As comunidades, médicos-científicas,
de saúde e as afins se uniram em perseguição,
incessante, desse inimigo desconhecido, com o objetivo de descobrirem como
evitar contraí-lo e, sobretudo, inativá-lo, através de uma vacina ou pela cura
medicamentosa, ou, ainda, desvendar os
meios, para prevenção.
Mas ele desafiou
todas as instituições constituídas, questionou as competências, relativizou o absolutismo
das normas jurídicas, exigiu mudança dos comportamentos sociais, enfatizou a
necessidade das profilaxias das pessoas e objetos, descortinou expondo, sem privilégios, as
vulnerabilidades dos estratos sociais dos países ricos e desenvolvidos; e,
sobretudo, dos países pobres e subdesenvolvidos, levantou os lençóis das necessidades materiais e espirituais, enfim, revolucionou as dinâmicas sociais da humanidade
afetando, especialmente, as relações de proximidade.
O exercício do direito
às liberdades individuais foi substituído pela garantia ao direito da
coletividade. Tudo que era absoluto passou a ser relativo. Os sentimentos mais subjetivos
ganharam status relevantes, como a solidariedade e a fraternidade; e o direito
à vida se impôs no pódio mais alto.
Muitos sonhos e
realizações foram interrompidos.
A incerteza e a solidão
bateram às portas de todos. O amanhã ficou incerto e o que esperar do futuro?
Com o passar dos dias, a sequência dos acontecimentos geraram intranquilidade
e falta de paz. Assim, se instalou a pandemia, decretada pela OMS.
Em meio a tudo, as disputas políticas, as crises econômicas e as corrupções se alastraram e
desencadearam mais dúvidas e incertezas.
Enquanto ocorriam os
fechamentos das escolas, das igrejas, das praias, dos cinemas dos teatros, dos
parques, dos comércios e serviços, as ruas ficavam vazias e silenciosas.
As autoridades, em
saúde, estudavam formas de minimizar a tragédia que estava por vir. A
decretação da pandemia desencadeou uma série de informações e de providências a
serem tomadas pelas instituições e pelas populações.
Orquestrados pelas
mídias os tecidos sociais passaram a lidar com os problemas sanitários, políticos, econômicos e sociais intensos.
Expressões, palavras,
termos e condutas, antes desconhecidas, passaram a pularem de boca em boca, de
uma rede social, para outra, em todas as mídias, tais como: protocolos de
segurança sanitária, decretos emergenciais, estados de emergência, quarentenas,
distanciamentos social, circulação de pessoas, uso de máscaras, face shield, home
office, testes, higienização das mãos, das compras, usos de álcool 70, de
álcool gel e de sabão e água, hospitais de campanha, respiradores, isolamentos
social, aprofundamento do desemprego, falências das empresas, reinvenção de
formas de trabalho, rendas e benefícios sociais e emergenciais, abastecimento
de alimentos, cloroquina e hidroxicloroquina; e as lives, as quais abordaram vários
assuntos, quebrando o isolamento e a solidão de muitos; siglas se destacaram
como, UTIs, RPCA, OMS, ANVISA, etc., e por fim,
“fiquem em casa”!
O mundo se curvou e se pôs de
joelhos diante do seu algoz. As pessoas foram orientadas a conviver
segregadas, por causa de um vírus, resistente a medicamentos; por não se ter
uma vacina para combatê-lo.
Porém, a criatividade despontou como o caminho para quebrar o isolamento e a solidão das pessoas.
O está consigo mesmo não foi apreciado por muitos.
O silêncio e, sobretudo, o mergulho em si mesmo não deu certo!
Os desejos, outrora, de ficar em casa, de querer estar
só, de dormir até mais tarde, de ter mais tempo com a família, etc., acolhido no
início se transformou em tédio depois. A convivência gerou muitos conflitos. Acabou o encantamento.
A tecnologia ocupou
todos os espaços. Foi a bola da vez. A salvação! Teve destaque porque trouxe soluções para muitos
problemas, como manter as pessoas conectadas, a facilitação de aprendizados, a
criação e invenção de coisas, a mudança de hábitos, a reinvenção das vidas e a
transformação das pessoas.
Enquanto isso. A natureza se manteve plena
e serena.
Ao mundo perplexo,
restou, tão somente, permanecer nas coxias da vida; aguardando as cortinas, dos palcos das
ilusões, se abrissem, para um novo mundo.
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